A IBU – União Internacional de Biathlon realizou entre os dias 16 e 19 de junho em Salzburg, na Áustria, a etapa final de seu Programa de Mentoria. O Programa foi uma das ações desenvolvidas pela organização em parceria com a SHESKILLZGLOBAL visando aumentar o número de mulheres em posições de tomada de decisão dentro do esporte.

Este programa faz parte do plano estratégico 2021/2026 da IBU, que tem uma seção dedicada exclusivamente a promoção da “igualdade de gênero na Família do Biathlon em todos os níveis e em todas as atividades, com a meta de se tornar o líder dos esportes de inverno em relação à boa governança, igualdade de gênero e diversidade”.

Como funcionou o Programa?

Foram selecionadas para participar do programa 17 mulheres representando 17 federações nacionais e 5 continentes. Muitas das mulheres selecionadas tinham algumas das mais altas posições de tomada de decisão em suas organizações, como as presidentes das federações da Suécia e Groenlândia, a vice-presidente da federação da Noruega e as secretárias geral das federações do Canadá e do Reino Unido. A coordenadora técnica da CBDN Camila Freitas participou do Programa de Mentoria da IBU representando o Brasil.

Camila Freitas, da CBDN no Programa de Mentoria da IBU
Camila Freitas no Programa de Mentoria da IBU

O início das atividades aconteceu no dia 17 de dezembro de 2021, momento em que foram apresentadas as atividades que as participantes deveriam apresentar ao final do programa: um projeto de desenvolvimento pessoal e um projeto desenvolvido em grupo.

Projeto individual

Para cada participante foram designados 2 mentores(as): 1 mentor(a) da família IBU e 1 mentor(a) externo. Os mentores tinham perfis bastante diversos, profissionais com posições de liderança em diferentes áreas de atuação. Cada participante desenvolveu sua “escada de desenvolvimento” em conjunto com os mentores e realizaram reuniões mensais para discussão de temas relevantes e ajustes no processo de desenvolvimento.

As mentoras designadas para Camila foram Stiliani Chroni e Rakel Rauntun.

Stiliani é uma professora universitária grega que reside e leciona na Noruega. Seu foco de trabalho é entender os mecanismos de liderança, gestão e a cultura de treinadores de nível internacional, assim como o desenvolvimento de treinadoras mulheres na Noruega. Ela também foi atleta de ski alpino e hoje em dia atua como delegada técnica em provas internacionais.

Rakel atua na área de gestão esportiva desde que deixou de competir pela seleção norueguesa de futebol de campo. Ela trabalhou na federação norueguesa de futebol como coordenadora internacional por 6 anos. Em seguida, iniciou sua trajetória no de Federação Norueguesa de Biathlon, onde atuou por 2 anos como Head of organization e como secretária geral por 10 anos.

“Nossas reuniões começaram em janeiro de 2022. Com Stiliani foram realizadas 4 reuniões e com a Rakel foram realizadas 3 reuniões. Foram encontros com discussões bastante ricas que variaram de questões pessoais a exemplos práticos de gestão organizacional. Foi bastante acolhedor poder compartilhar experiências pessoais e dificuldades enfrentadas por nós, mulheres, em ambientes masculinos, muito comum no universo esportivo. Minhas mentoras trouxeram conselhos e dicas práticas de como se comportar em um cargo de liderança nas mais diferentes situações. Posso dizer que questionei bastante vários dos meus comportamentos e pude colocar em prática conselhos compartilhados pelas mentoras”, comentou Camila Freitas.

Projeto em grupo

Para o trabalho em grupo, as participantes foram divididas em grupos de 4 a 5 integrantes de acordo com os interesses individuais. Cada grupo deveria apresentar ao final do programa um projeto que responderia à seguinte questão: Como a Família do Biathlon pode atingir a meta (de igualdade de gênero) e mantê-la, considerando tanto o cenário nacional quanto o internacional?

“O meu grupo foi formado por mim e pelas representantes da Alemanha (Maria Wünn), Estados Unidos (Sara Studenbaker), Finlândia (Annukka Siltakorpi) e Hungria (Emoke Szocs). Ao longo do programa, nós nos reunimos virtualmente em 7 ocasiões. Após uma análise inicial do cenário, decidimos focar nosso projeto no aumento da participação das mulheres em posições de oficiais: árbitras internacionais e delegadas técnicas. Essa decisão foi tomada devido ao baixíssimo número de mulheres atuando nos eventos da IBU”, conta Camila.

Para entender melhor as dificuldades enfrentadas pelas árbitras internacionais e delegadas técnicas mulheres, seu grupo enviou um questionário para as oficiais com licença ativa na IBU. Ao todo, 46 mulheres de 18 países diferentes responderam o questionário. A principal questão levantada pelas respondentes foi a dificuldade em ter o respeito de homens mais velhos e a falta de oportunidades para atuar em papéis relevantes, além da dificuldade de comunicação com as organizações.

Baseado nas respostas obtidas e nas discussões promovidas, a proposta do grupo foi voltada para a comunicação. Sugerimos à IBU criar em seu site oficial:

  • uma página para Role Models, com histórias de mulheres que atuam em diferentes áreas na Família IBU (oficiais, treinadores, wax tech, fisioterapeutas, etc.) – “You can be what you see” (você pode ser o que você vê);
  • uma página dedicada aos caminhos que as mulheres precisam seguir para que se tornem profissionais do esporte como, por exemplo, o caminho para a aquisição de licença de árbitra internacional e delegada técnica.

Todos os projetos foram apresentados para o Comitê Executivo da IBU no dia 18 de junho, durante o encontro de fechamento do programa realizado entre os dias 16 e 19 de junho em Salzburg, na Áustria. Todas as participantes do programa estavam presentes e puderam interagir durante as atividades programadas para os três dias de atividades.

“O grande diferencial desse programa foi a profundidade das discussões que eu tive com o grupo de participantes. Como estivemos em contato por 6 meses, as discussões foram ficando mais complexas, pois tínhamos cada vez mais dados para entender o cenário para as mulheres no Biathlon. Sempre entendi a importância do tema da igualdade de gênero no esporte, mas fez muita diferença dedicar um tempo específico para refletir em conjunto com outras mulheres as principais dores que nós sentimos e pensar em estratégias para a criação de um ambiente seguro e com mais oportunidades para as mulheres”, concluiu Camila após sua participação no Programa de Mentoria da IBU.

Participantes do Programa de Mentoria da IBU
Participantes do Programa de Mentoria da IBU

Importância do programa para o desenvolvimento do biatlo feminino

O Programa de Mentoria da IBU visa o desenvolvimento do Biathlon feminino através maior participação de mulheres em posições de tomada de decisão nas diferentes federações nacionais. O aumento da participação feminina nessas posições aumenta as chances de um maior foco no debate das questões referentes às dificuldades das mulheres em se manterem no sistema esportivo, além de criar modelos femininos em diferentes funções para que a nova geração de atletas e praticantes da modalidade possam se inspirar.

É importante ressaltar que um dos principais fatores de sucesso para a implementação de políticas e ações que visam a maior participação feminina é o comprometimento dos líderes das organizações. Quando os principais dirigentes acreditam e decidem agir para a redução da desigualdade existente entre homens e mulheres, a velocidade de implementação de ações afirmativas é aumentada e a influência positiva dessas pessoas se propaga por todo o sistema esportivo da modalidade.

Iniciativas voltadas para os esportes femininos na CBDN

A CBDN tem organizado ações dedicadas ao aumento da participação feminina nos esportes de neve. Em 2021, foram organizados 3 training camps para as jovens atletas do Ski Cross Country, modalidade estratégica da Confederação. Participaram das ações 10 jovens atletas dos núcleos de treinamento de São Paulo e Jundiaí. Durante os training camps, além das sessões de treinamento físico e técnico, foram realizadas rodas de conversas sobre questões sensíveis para esse grupo, como assédio e abuso no esporte e ocupação de espaços por mulheres. A execução de projetos dedicados ao aumento da participação feminina nos esportes de neve continuará sendo um dos objetivos do ciclo olímpico/paralímpico 2022-2026.

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