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A caminhada pela vaga olímpica não termina aqui, por Isabella Springer
24 de abril de 2024

A rotina de uma atleta em busca da classificação olímpica não é tarefa nada fácil. Viagens e mais viagens por diversas montanhas, treinos, análise de condições climáticas e adversários. Isabella Springer, atleta da equipe nacional de Ski Alpino, junto a Chiara Marano, era uma das cotadas para estar nos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang na vaga destinada ao Brasil. Após meses e verdadeira maratona de provas, com tempo para descanso mínimo, a jovem atleta não alcançou seu principal objetivo e estar na Coreia do Sul entre os dias 09 e 25 de fevereiro. Mas isso não quer dizer que ela parará por aqui, a caminhada pela vaga olímpica não termina aqui.

 

Por Isabella Springer, atleta de Ski Alpino

Foram três meses de muito treino e 31 provas. Eu comecei sem treinador, com muita pouca experiência em Slalom e uma pontuação ruim, cerca de 250 pontos FIS. Terminei com um treinador fixo e 153 pontos FIS. Isso serve de termômetro para mim, pois eu consegui isso num ambiente pré-olímpico altamente competitivo e na Europa.

Foi uma temporada incrível, pois pude testar meus limites, aceitar muitas derrotas, e tive que tomar muitas decisões difíceis. Fiz muitas e novas amizades com esquiadores de vários países diferentes, como o Mexico, a Bélgica, Madagascar, Irlanda, Inglaterra, Finlândia, Hungria, Paquistão, Uzbequistão, Albânia, Islândia, Tailândia, Senegal e Paraguai. No final de tudo, meu interesse e amor pelo esporte só cresceu.

Em outubro eu participei de um FIS Camp. Apesar de ter tido uma distensão no joelho logo no primeiro dia, consegui aproveitar três semanas de treino. Após isso, mesmo antes de voltar para casa, fiz seis corridas em Solda, na Itália. Essas foram as minhas primeiras corridas internacionais na Europa. Como eram as primeiras corridas da estação na Europa, havia uma competição enorme por causa da qualificação olímpica. Eram seis corridas em seis dias. Foi aí que eu percebi o quão difícil seria o caminho que eu tinha pela frente.

É importante notar que até o final de 2017 eu estava sem treinador fixo e sem time. Isso quer dizer que, não somente havia dificuldade para treinar, mas estar sem um treinador e sem time na hora de uma corrida dificulta muito ter bons resultados. São muitas as decisões que a gente tem que tomar antes de entrar numa prova. Primeiro tem que escolher qual participar, antecipar as condições climáticas, analisar a concorrência, reservar hotel, etc. No momento da corrida você tem que abordar o curso da pista, cada curva no seu detalhe, memorizar tudo na cabeça. Paralelamente, também tinha que tomar decisões práticas do tipo “qual cera usar nos esquis para qual tipo de neve?”, “a que horas que eu devo começar a aquecer e ir pro start?”, e muitas outras coisas assim. Todas essas decisões são feitas normalmente por um time de especialistas e eu tive que aprender tudo isso e tomar as decisões só com a ajuda do meu pai.

Um exemplo disso foi uma das últimas corridas que eu fiz em Folgaria na Itália, final de janeiro. Lá estavam 35 competidores, dos quais 34 eram italianos. Apesar de ser uma corrida internacional, não tinha nenhum estrangeiro fora eu. Os italianos estavam em casa e formavam um grupo muito unido. Em tais circunstâncias fica muito difícil pontuar bem.

Outra coisa que me ajudou muito foi o apoio dos meus patrocinadores Fischer Skis, Komperdell e POC, que ofereceram equipamentos de ótima qualidade. Com esse equipamento me sinto mais capacitada pra enfrentar tantos desafios.

Uma coisa muita boa que me aconteceu na época do Natal, quase como um presente, foi ter conhecido uma esquiadora da Bélgica da minha idade, que se tornou uma grande amiga, cujo treinador é o seu próprio pai. A partir desse momento eu comecei a treinar e a viajar junto com eles. Foi nesse período, de aproximadamente 18 dias com treinos contínuos, que eu deslanchei e comecei a abaixar meus pontos significativamente nas corridas. Essa foi a minha melhor fase e foi aí que eu consegui meus melhores pontos até agora.

O meu grande companheiro nessa aventura foi o meu pai. Durante o dia ele me levava a todos os lugares, filmava meus treinos e corridas, e durante a noite ficava pesquisando as próximas corridas e fazendo toda a estratégia necessária para eu aproveitar o máximo dos poucos dias que tínhamos para a qualificação. Sem o suporte dele eu não teria conseguido tudo isso.

Essa experiência foi somente o começo da minha jornada como esquiadora. Meus objetivos sempre foram os Jogos Olímpicos de Inverno, mas eu estava o tempo todo consciente que somente com muita sorte eu conseguiria entrar desta vez. Para atingir o meu objetivo, segui treinando e competindo na Itália. Quero dar continuidade à conversa com a Chiara – Marano, também atleta da equipe nacional de Ski Alpino do Brasil – de formarmos um time brasileiro. Até o momento nossos esforços foram grandes, mas para chegarmos a uma possível medalha em 2022 na China será necessária uma abordagem ainda mais profissional. Para isso, sigo minha jornada de treinos e competições, e busca incessante por interessados em capitalizar todo meu esforço para atingir meus objetivos.

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