Passados poucos mais de dois meses desde o histórico 6º lugar conquistado em prova de 15km dos Jogos Paralímpicos de Inverno, Cristian Ribera relembra sua trajetória desde a primeira ida à neve até fazer história na Coreia do Sul. Veja o relato do mais novo atleta dos Jogos de 2018:

 

Por Cristian Ribera,

A sensação de representar o meu país nos Jogos Paralímpicos de Inverno de PyeongChang foi inexplicável. Desde o início de tudo, quando tive a oportunidade de ir para a neve pela primeira vez, em 2016, fiquei completamente deslumbrado com aquela nova experiência.

Nessa época, é claro, não criava grandes expectativas por uma possível classificação aos Jogos de 2018. Não vou negar que queria muito alcançar isso, mas era apenas um sonho ainda distante, talvez para 2022. Não imaginava que as coisas poderiam acontecer tão rápido.

Pelo fato de eu ter apenas 13 anos naquele momento, eu tinha apenas esse sonho comigo e me focava para fazer o melhor durante os treinamentos com o rollerski e depois na neve. Eu não tinha a idade necessária para a classificação e essa questão ainda martelava.

Em 2017, enfim, eu saberia minha classificação. Lembro de ter ficado ansioso e contente com a chegada desse momento, pois aqui no Brasil eu era “taxado” como LW 11,5 ou LW 12. A primeira classificação no Para Cross Country Sitting é de LW 10, o que significa a menor mobilidade de tronco do atleta dentre todas as classificações. Quanto mais alto for esse número, maior a mobilidade. Para minha surpresa e imensa alegria, fui classificado como LW 11. Do ponto de vista técnico, isso era muito vantajoso pela agilidade e técnica que eu pude desenvolver nos treinamentos.

Logo na minha primeira prova na neve, em uma etapa de Copa do Mundo, consegui registrar 122 pontos IPC numa prova de Sprint, dentro do índice técnico de classificação para os Jogos de PyeongChang – deveria atingir mínimo de 180 pelo menos.  Isso me deixou em êxtase e ainda mais inspirado para as provas que viriam.

Na sequência daquela Copa do Mundo, consegui me superar, mais uma vez, e conquistei espetaculares 52 pontos na minha primeira prova de Distance. Eu não saberia explicar como me senti naquele momento, mas a verdade é que o mundo parou ali. Eu não acreditava que tinha conseguido esse feito. Eu não ligava para mais nada, só queria saber da próxima prova. E assim foi com todas as outras.

Na Finlândia, eu voltei a me surpreender, melhorando minhas marcas de Distance e Sprint. No Distance, baixei para 48 pontos, enquanto no Sprint tive a oportunidade de disputar a final. Foi muito emocionante estar na final. Pude sentir a adrenalina de competir com outros atletas de altíssimo nível, e isso foi espetacular.

Estar próximo de conquistar uma medalha em uma Copa do Mundo me inspirou a buscar cada vez mais o melhor de mim mesmo. E foi isso que levei comigo para a Coréia do Sul. Ao chegar lá, a competitividade e gana por conquistar mais já estavam em mim. O clima competitivo estava no ar e aquilo me encantava.

Foi apenas no primeiro treino que a minha ficha caiu, eu estava nos Jogos Paralímpicos de Inverno. Um sonho.

Apesar das condições não estarem tão boas e semelhantes ao que estávamos acompanhando pelas notícias, sobretudo pela neve e a temperatura mais elevada, eu me esforcei ao máximo para conseguir treinar com qualidade e evoluir.

Enfim, passado o grande momento da abertura dos Jogos, minha primeira prova foi a de Distance. Era a que eu estava mais ansioso de todas, pois na temporada havia feito minhas melhores marcas nesse tipo de prova. Eu esperava um Top 10, baseando pelo que estava fazendo na Copa do Mundo. Para minha surpresa, o melhor estava guardado. Eu consegui um inédito 6º lugar! E por pouco mais de um minuto não conquistei uma medalha.

Para mim, aquilo foi muito emocionante, uma sensação inexplicável que me inspirou para todos os desafios que eu teria durante os Jogos. Consegui melhorar todas as minhas marcas expressivamente. Só fiquei um pouco chateado com minha prova de Sprint porque não escolhemos o melhor ski para aquela oportunidade e isso comprometeu meu rendimento. Se não fosse esse detalhe, acho que eu poderia ter disputado a semifinal e, surpreendentemente, tirar a medalha de ouro do Andrew Soule. Na qualificatória, ele ficou na 12ª posição (última para avançar às semis).

Tudo isso se soma no que foi a minha experiência na Coreia do Sul. Com certeza, eu aprendi muito com tudo o pude vivenciar. Participar dos Jogos Paralímpicos de Inverno foi simplesmente inesquecível, um privilégio. Tive ainda o prazer de ser escolhido o porta-bandeira do Brasil na cerimônia de encerramento, o que foi uma honra enorme.

Jamais esquecerei de toda essa experiência. Levarei sempre comigo todos esses momentos de convívio com a delegação brasileira. Meu agradecimento em especial a Aline Rocha, Fernando Orso, Thomaz Moraes, Leandro Ribela, Bruno Rocha, Julia Albino, Stefano Arnhold, Mizael Conrado e o resto da delegação.